Nota: 3,5/5,0
Existem alguns trabalhos que prezam pela originalidade,
outros pela coragem. No caso do novo disco do Rádio Morto, temos
o extremo dos dois casos, onde o primeiro acaba se tornando a causa do
segundo.
Em primeiro lugar, ao ouvinte incauto, trata-se de um trabalho que
mescla o post-punk com o experimental, numa linha que remete ao SPK.
Aviso muito bem vindo, aliás, pelo fato de a música da Rádio Morto ser
de audição difícil, dados alguns elementos descritos abaixo.
Num primeiro momento, parece ser uma gravação de baixa
qualidade. E é exatamente este o propósito, soar como algum ruim,
mal acabado, malfeito. Com estas qualidades o disco se transforma
numa experiência muito interessante para o ouvinte.
“Ad Morten” é uma faixa instrumental
esquisita, estranha, que começa com um violão e uma sirene. “Gótica
Profana” é uma música de post-punk bem minimalista, já com mostras
do que virá no disco, com seus chiados e vocal estourado na maior
parte das músicas. ”Misantropia” tem um trecho narrado do finado
Alborgheti e continua com um rap bem bacana. “Santa Vadia” funciona
como um interlúdio para a próxima música, “Garota Cadáver”. Esta
música tem uma percussão em lata remetendo ao experimentalismo do
Test Dept, mesclado ao post-punk, criando uma melodia que dissoa do
vocal. “O Indigente” é a faixa mais “normal” deste disco, contendo
uma melodia de violão e a letra cantada num ritmo diferente do que é
tocado. “Vultos Satânicos”, a melhor faixa deste trabalho, flerta
com o Power Electronics e com o Noise, lembrando um pouco
o trabalho do Disciplina Urbana. “Urubus na Carniça” soa mais
post-punk, ainda com algum experimentalismo, enquanto “O Vale da
Sombra da Morte” é um trip-hop muito bom. “Testamento”, a faixa
título, é um trabalho de post-punk experimental, com variações no
vocal e no volume ao longo da música. “A Eternidade” é um trabalho
de “spoken words”, um gênero pouco difundido em língua portuguesa
e que sempre rende frutos bastante interessantes, ainda mais
quando se recita palavras do grande filósofo alemão Friedrich
Wilhelm Nietzsche. “Terra dos Sonâmbulos” poderia ser bem uma
trilha de algum filme, com um instrumental muito bom e
“Apocalipse” fecha o disco, no melhor estilo Test Dept de fazer
música.
Enfim, é um disco que exige paciência, que será recompensada,
para absorver toda a densidade deste trabalho. É um disco
nacional inovador em sua proposta e, por conta de tudo o que foi
dito, deve ser escutado.
http://groundcast.com.br/review/review-radio-morto-testamento-2013/
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